sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lula discursa em português no Timor mas precisa de tradução

PEDRO ROSA MENDES
da Agência Lusa, em Dili

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva despediu-se nesta sexta-feira do Timor Leste tomando a mão de José Ramos Horta enquanto dizia, na declaração final de sua visita, que "o irmão mais velho sempre ajuda o irmão mais novo".

Embora a língua oficial comum aos dois países tivesse sido um dos temas presentes na agenda de Lula, foi em tradução simultânea que parte do Parlamento timorense seguiu o discurso do presidente.

"A maior parte das pessoas [do Timor Leste] só entende tétum", explicou um dos técnicos do Parlamento, diante do embaraço dos assessores da diplomacia timorense e do desespero dos enviados especiais da imprensa brasileira com a tradução do discurso para tétum e inglês.

A diferença de tamanho entre os dois países e a possibilidade de contribuição do Brasil para a construção do Timor Leste independente marcaram a visita oficial de Lula a Dili.

Lula repetiu no aeroporto Nicolau Lobato, já na partida para a Indonésia, a mesma promessa de ajuda ao Timor Leste que marcou seu discurso no Parlamento, realizado entre encontros com as autoridades e um almoço com vista para o mar.

O presidente recordou aos deputados "a luta heróica do povo timorense", depois de ter ouvido palavras calorosas de todas as bancadas parlamentares e do presidente da casa, Fernando La Sama de Araújo.

"Aprendemos a admirar a fibra com que aqui se lutou pela autodeterminação da pátria timorense", disse Lula, em um tom que agradou aos deputados. "O povo timorense tem dado seguidas provas de maturidade", afirmou o presidente.

"No início deste ano, [o Timor Leste] pôde responder com serenidade e equilíbrio ao ato de violência contra o presidente" José Ramos Horta, que foi baleado em 11 de fevereiro, pouco depois de regressar de uma visita ao Brasil.

"Vejo que esse grande líder está plenamente recuperado e de volta às suas funções", disse Lula, declarando que "a democracia timorense está mais revigorada do que nunca".

"O Timor Leste sintetiza de forma exemplar a nossa luta por uma ordem internacional mais justa e solidária. Expressa a aspiração coletiva por um mundo onde os povos possam compartilhar o fruto do progresso material e conviver em paz e harmonia", continuou.

"As Nações Unidas têm sido um dos alicerces da obra de edificação do Estado timorense", acrescentou o presidente, que defendeu, em seguida, o 'multilateralismo' e a reforma da ONU.

"Temos defendido a necessidade de reforma da ONU, para que ela se torne mais eficiente, legítima e eficaz na garantia da paz e da segurança internacionais", declarou Lula, mencionando o diplomata Sérgio Vieira de Mello como "um brasileiro ilustre", que "foi o condutor do processo de transição do Timor Leste para a independência".

O presidente citou ainda o leque de áreas e programas de cooperação do Brasil com o Timor Leste, destacando a formação profissional, o apoio ao ensino da Língua Portuguesa, ao sistema de justiça e aos projetos de promoção da agricultura.

"O Brasil estará incondicionalmente ao lado do Timor Leste na sua luta para construir uma sociedade próspera, soberana e democrática", afirmou Lula, que disse também que os timorenses "terão sempre no Brasil um amigo e um irmão".

Após a rápida visita ao Timor Leste, Lula termina em Jacarta, Indonésia, seu périplo pela Ásia, que incluiu também passagens por Japão e Vietnã.